Pérola

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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Quintino Fernandes e o Campeonato Mundial de Futebol de 1950





















Lembro-me com perfeição quando, aos cinco anos de idade, exatamente no dia 16 de Julho de 1950, meus pais se preparavam para torcer pelo Brasil na final do Campeonato Mundial de Futebol, partida realizada no Estádio do Maracanã. Meu Pai, dentista e delegado, minha Mãe diretora e professora de colégio. Todos os sete filhos vestiam a melhor indumentária, portando bandeirinhas do Brasil.

Entramos no carro da Família e fomos para o campo de futebol em Orleans, Santa Catarina. Neste mesmo dia o Palmeiras de Pindotiba disputava um jogo de futebol pela liga Cidade Azul de Tubarão. Meu Pai já foi uniformizado, era o capitão do time, usando um gorrinho porque a bola era de capotão e muito pesada. O Presidente do Clube era o “seu” Victorino, chefe da Estrada de Ferro Tereza Cristina.

Chegamos ao campo e meu Pai, com a o auxílio dos filhos e de minha Mãe, fixou uma antena entre o ônibus e o carro para escutarmos o jogo final da Copa do Mundo. O seu Quintino vinha a todo instante na beira do gramado para saber o resultado. Com os fogos e as bandeiras agitadas marcamos o primeiro gol feito por Friaça, a um minuto de jogo do segundo tempo, para a tristeza do goleiro Maspoli do Uruguai.

Acabávamos de sair da Segunda Guerra Mundial e o Brasil aceitou organizar a competição fora da Europa, apresentando-se como único candidato, com concordância de Jules Rimet. Aqui foi erguido o maior estádio do mundo. Rivais tradicionais como a Argentina e França não vieram. Antes da final goleamos a Suécia por 7 a 1 e a Espanha por 6 a 1.

Confiamos em Barbosa, um grande goleiro, mas os gols dos uruguaios Schiafino e Ghigia transformaram a festa em tragédia e Barbosa nunca mais se recuperou. Com mais de 200 mil torcedores, o Maracanã emudeceu. Das trinta e quatro seleções inscritas seis desistiram e outras não vieram, assim houve a participação de somente 13 seleções. O Uruguai goleou a Bolívia de 8 a 0, indo para o turno final. A Itália, campeã em 1934 e 1938, veio para conquistar o terceiro título, o que daria a posse definitiva da taça. Enfraquecidos pela ausência dos campeões do Torino, mortos em um desastre aéreo em 1949, acabou sendo eliminada pelos suecos, indo para as finais, em disputa direta, Brasil e Uruguai, Espanha e Suécia.

O Brasil já havia goleado os suecos e espanhóis e o Uruguai conseguiu, com enorme sacrifício, empatar com a Espanha por 2 a 2.  O Brasil entrou na final já como campeão. No Maracanã lotado, com enorme euforia a festa já havia sido encomendada, nós precisávamos apenas do empate.

A vitória de virada do Uruguai por 2 a 1 foi a primeira injustiça na Copa. Em silêncio absoluto e muito choro o público deixou o estádio sem acreditar que o melhor time do mundo não havia sido campeão. O que foi remetido com a seleção da Hungria de Puscas, um timaço quase imbatível que perdeu para a Alemanha em 1954. Com o carrossel da Holanda de Cruyff de 1974. Com o timaço da Holanda na Argentina em 1978. Com o Brasil de Zico de 1982.

O Brasil jogou com Barbosa, Augusto e Juvenal, Bauer, Danilo e Bigode, Friaça, Zizinho, Ademir, Jair da Rosa Pinto e Chico. Técnico Flávio Costa.

Após o jogo as bandeirolas foram enroladas, o rádio desligado, os filhos do seu Quintino e Dona Malvina entraram no carro e voltaram para casa, meu Pai chorando e todos tentavam consolá-lo. A volta foi um caminho triste apesar da vitória do Palmeiras de Pindotiba sobre o Orleans.

A vida continuou e seu Quintino, que era apaixonado pelo esporte, teve três filhos que jogavam futebol e ele como técnico em Alto Paraná, Norte do Paraná, onde, por mais de trinta anos, se dedicou na direção e na formação de jogadores que bem representassem a sua cidade. Foi diretor e técnico de vários times, tendo contratado muitos que trabalhavam na sua loja de eletrodomésticos “Comercial Casa de Máquinas”, e se orgulhava muito quando os times de futebol de Alto Paraná obtinham o sucesso nos jogos que realizavam. Dedicou grande parte de sua vida formando e comandando atletas até o último dia que transferiu residência para Porto Velho/RO.

Viu ainda o Brasil ser tetracampeão e teve muitas alegrias com o esporte bretão. Residiu com sua Malvina mais de dez anos em Porto Velho e não perdia um jogo do Ferroviário, vivendo muitas alegrias com o futebol e aqui repousa eternamente com sua amada depois de 60 anos de vida em comum.

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