Aquífero Guarani – 70% no Brasil
“Sem água, a vida da Terra seria impossível. Presente em até 80% de nosso corpo, ela é imprescindível a todos nós, desde o útero materno até a morte”. (Nelson Gandur Dacach)
Fala-se muito em desmatamento da Amazônia, dos problemas ambientais do pantanal, da destruição da mata atlântica, do aquecimento global, o que não deixa de ser aspectos preocupantes da necessária convivência do homem com a natureza, certamente pagaremos um preço muito alto por não preservarmos os bens naturais que o planeta, através de milhares de séculos nos legou. É chegado o momento do basta, não se admite a utilização irracional dos recursos não renováveis para beneficio.
A história da humanidade se divide em períodos, antiga, média, moderna e contemporânea, agora, certamente inicia-se a era eco-planetária, tendo como objetivo o homem servir-se das riquezas naturais sem degradação e respeito a flora, a fauna e nossas florestas, principalmente não poluir nossos mananciais e preservar a água doce ainda existente.
Com o aumento desordenado da população e o desenvolvimento industrial, o homem passou a destruir os recursos naturais e o que havia de matas na Europa, Ásia e África. Dito isto passamos a enfocar o assunto que nos leva a reflexão principal que é a utilização da água doce.
O problema mundial para o futuro certamente não será o petróleo, mas sim o consumo de água doce. A importância da água é tão grande, ao lado do ar, da terra e do fogo, constituindo uma substância que é possuidora de estado sólido, líquido e gasoso, contém por litro de 60mg a 350 mg de minerais e de 20cm3 a 45 cm3 de gazes do ar, segundo especialistas deve ser tomada a 5ºC e não ultrapasse 15ºC, para o melhor paladar e a saúde.
O próprio Aristóteles já dizia que “água salgada, quando passa a vapor, se torna doce e o vapor não resulta em água salgada depois que se condensa”. O deserto de Saara é o mais seco do planeta, vem depois Aricas no Chile e Cherrapundi na Índia. No Kuait, maior centro petrolífero, toda a população consome água do mar dessalizada, antes fornecida pelo Iraque de barco ou avião. Se o nosso planeta fosse linear 2,7 km de espessura o cobriria. O que realmente existe para o consumo é apenas 1,5% na forma de mananciais, 99% em lagos e 0,9% pelos rios e riachos.
É bom destacar que a água é de suma importância para a sobrevivência humana, produz energia, irriga os campos, navegação marítima, fluvial, matéria prima para atividades industriais. Segundo pesquisadores 97,5% da água é salgada, somente 0,26% da água doce é disponível, sendo que a destruição dos mananciais, assoreamento de rios e lagos, impermeabilização do solo, desmatamento em torno dos rios, consumo excessivo e represamento. Assim, é necessário proteger as nascentes, preservar as matas ciliares, combater a poluição dos rios, o despejo de esgoto doméstico e industrial, construir aterros sanitários próprios, reduzir o consumo de água, planejar melhor a construção de usinas.
Apesar de a natureza ser dadivosa com o Brasil em recursos hídricos, a utilização e a poluição será um legado triste para as futuras gerações pela poluição e uso inadequado, alguns dizem que detemos quase 20% da água doce do mundo, mais de 92% do território recebe chuvas, a exceção do semi-árido, só a Amazônia contem 78% da água de superfície, enquanto na região Sul que concentra a maior densidade populacional não chega a 6%, a água na costa brasileira está cada vez mais escassa e cara.
Segundo estudiosos a água ocupa 72% da superfície, o potencial hídrico subterrâneo é 100 vezes maior. Do total, somente 0,64% é água doce, sendo que a subterrânea é mais pura. Se não houver legislações rígidas e políticas públicas pra valer em poucos anos o valor da água doce será o bem mais valorizado no planeta e milhares de pessoas morrerão por falta do precioso líquido, sabe-se que os agrotóxicos utilizados na irrigação agrícola, principalmente nas nascentes, já mataram milhares de animais e peixes por contaminação, acarretando uma comum a utilização de poços artesianos e poços do lençol freático.
A agropecuária deve ser rigorosamente monitorada, com sistemas de filtros que podem melhorar a qualidade dos produtos. A lei 9433/97 adotou os princípios básicos para a utilização das águas e definiu a organização e compartilhamento do uso da água, resta que órgãos públicos disponham de meios para fiscalizar sua aplicação. O futuro reserva conflitos entre nações, em alguns caso já se concretizaram na Índia onde milhares de agricultores foram presos roubando água. A Colômbia importara água por embarcações e trens, na Austrália existe restrições rígidas de consumo, segundo o Banco J.P Morgam, metade do planeta já enfrenta problemas com o consumo d’água, constando que o desequilíbrio entre a oferta e a demanda, o crescimento demográfico, a urbanização e a mudança climática são os fatores principais. Segundo estudiosos da matéria até 2.030 quase 50% da população mundial terá graves problemas de abastecimento de água, este será o grande desafio do futuro.
A dessalinização será uma mínima parte na solução de consumo de água potável, problema que Las Vegas terá por falta de chuvas e aqüíferos para o uso da população que certamente grande parte deverá deixar a cidade. Segundo Stephen Hofmann a água gera quase 500 bilhões de dólares de lucros anuais as indústrias e será, a curto prazo, a comodidity mais cobiçada no planeta e ultrapassará em muito o preço do petróleo. O Japão, a Suíça, a Inglaterra, a Austrália e os Estados Unidos saíram na frente da fabricação de componentes e equipamentos para melhor captação, a China foi vencedora num dos maiores contratos para dessalinização na Argélia, tanto Osaka como Los Angeles estão planejando adotar preços progressivos para água e saneamento.
Nós deixamos de dar atenção devida porque para utilizá-la é só abrir a torneira. O site Ambiente Água registra que a hidropirataria é um novo crime que já chegou aos rios da Amazônia. Depois de sofrermos com a biopirataria, roubo de minérios e madeiras nobres, agora é o trafico de água doce, navios petroleiros estão reabastecendo seus reservatórios nos rios da Amazônia antes de saírem das águas nacionais com saque a céu aberto de nossas riquezas. A defesa dos nossos recursos hídricos está na Constituição Federal, art. 20, inciso III, tanto a marinha como a Polícia Federal tem que atuar para impedir que somente um navio leve o suficiente para abastecer a cidade de Manaus por um dia.
Temos que cuidar muito na defesa de nossa soberania, proteger nossos mananciais e recursos hídricos. As águas da Amazônia são cobiçadas por outros países por ser a maior bacia da terra e deter a maior rede hidrográfica com mais de mil afluentes.
O aqüífero Guarani é a maior reserva de água doce do mundo (1,2 milhão Km2), onde 70%, ou seja, 840 mil quilômetros quadrados, estão localizados no território brasileiro nos Estados de Mato Grosso, Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná, Goiás, Minas Gerais e Santa Catarina. O restante, encontra-se na Argentina e Uruguai, seu nome foi atribuído a tribo Guarani, livre de contaminação, mas, em razão da concentração de produção agrícola com a utilização de herbicidas é necessária a redução de agrotóxicos, podendo haver, a curto prazo, poluição irreversível.
As guerras entre nações será em razão da água doce, mais de 60 países estão em zona áridas, guerras ou ameaças de guerra já tem acontecido. Israel tem seus olhos para as colinas de Golan e Gaza. Os rios Jordão, Iamuk e Litani são assuntos de segurança nacional. O rio Indo já é motivo de disputa entre Índia e Paquistão, Índia e Bangladesh disputam o Ganges, o Tigre e o Eufrates são disputados pelo Iraque, Turquia e Síria, os EUA tomaram parte do rio Colorado do México para irrigar os desertos do Arizona e a Califórnia, também a bela Las Vegas que não chove há dezenas de anos, o próprio rio Paraná tem causado atrito entre Brasil e Argentina, a construção de um curtume no Uruguai quase desencadeou um conflito com a Argentina.
A Arábia Saudita pretende deslocar um enorme iceberg ao longo de 8.000km para suprir de água potável, dizem ter 100 milhões de toneladas. Nós que habitamos Rondônia, na Amazônia legal, temos o rio Apediá, Guaporé, Ique, Ji-Paraná, Madeira, Paraná-Pixuna, Roosevelt, Candeias e Jamari, com um manancial hídrico que nos coloca em situação mais privilegiada no futuro, resta-nos protegê-los a todo custo, tanto os organismos públicos como nós cidadãos, tratá-los como jóia rara, os quais tem valor infinito para a nossa sobrevivência e da futuras gerações, devemos ser mais cautelosos e protetores desta riqueza que a natureza nos legou, devendo ser consentida a utilização de recursos hídricos para gerar energia com maior rigor, pois infelizmente o que vemos é que seremos utilizados para atender a demanda do Sul e suas indústrias e a compensação até agora não é visível.
Antes de sua devastação o potencial hídrico do noroeste do Paraná era um dos mais abundantes do sul do Brasil. Em apenas uma década destruíram suas matas, sua flora, sua fauna, suas matas ciliares e suas nascentes de rios. Lembro que em Alto Paraná, nós, guris, íamos em bando mergulhar nos riachos da Água do Cedro, Jacareí, e também na baixada que dá acesso a Paranavaí, num local chamado “esfria saco”. Perto de Paranavaí existiam vários e abundantes riachos e seu principal era chamado de Rio Surucuá, com suas águas limpas e cristalinas. Perto da ponte morava o “velho do Surucuá”. Mais parecia o homem das cavernas, com olhos esbugalhados, cabelos longos e encaracolados, pele enrugada, roupas aos trapos e sempre de chinelo, portando sempre o seu bornal a tira-colo. Vivia em seu casebre coberto de palhas e não faltava água para tomar e se banhar. Foi-se o velho e o rio Surucuá. Acabaram com o principal recurso hídrico, restando somente a lembrança de sua existência, além de histórias para contar de um passado bem recente na cidade do fim da linha.
Os nossos mananciais, nosso rios, de ora em diante, certamente serão melhor protegidos. E só aceitaremos sua utilização com compromisso de respeito ao meio ambiente, a nossa fauna, nossos rios e nossas florestas, devendo os brasileiros se orgulharem da sua terra, suas riquezas e esperanças em dias melhores.
Dr. Tadeu Fernandes - OAB/PR 4892 e 79-A/RO